quinta-feira, 12 de abril de 2012


Choveu muito na manhã daquele sábado e os trilhos da estação de trêm ainda estavam molhados a tarde. Eram 16 horas e poucas pessoas alí se encontravam. Entre essas poucas pessoas estava Sophie Fercondini com um de seus típicos Trench Coats pretos, ankle boots, meia calça e echarpe. Quem a visse de longe diria que ela estaria á espera de um suposto namorado devido a sua angustia e aflição aparente. Entretanto, a verdade é que Sophie nunca gostou de estações, porque sempre a lembrava de despedidas e esperas, que abriam cicatrizes que nunca saravam.
Aquela garota solitária estava em um dos seus piores surtos, talvez o mais dramático. Pensava se valeu a pena tantos meses em silêncio ou se já era hora de se arrepender amargamente por ter optado silenciar-se. Refletia no quanto sua vida amorosa “não resolvida” afetava todos ao seu redor e se não chegara a hora de por um ponto final. Refletia no quanto já estava cansada de esperar por respostas que talvez não vinhessem.
Cada palavra e vírgula da última conversa com David ecoavam em sua mente deixando os pelos de seu corpo arrepiarem-se:
-“ Por que você não me disse isso esse tempo todo?” “E se a resposta fosse outra?” – disse David.
Por um breve momento Soph sentiu ódio de si mesma e teve um sentimento repugnante sobre o efeito que ela causava em outros. Se a própria Soph fosse narrar sua história de amor, ela teria certeza que em vez de um “Era uma vez” ou um “Viveram felizes para sempre”, teria um conto complicado de uma pessoa insegura. E se fosse repetir tais palavras em voz alta, não escutaria nada atraente, apenas dramas que provavelmente só faziam bem a ela.
O chão da estação estremeceu e Sophie pôde ver o trêm que embarcaria se aproximando. A medida que se aproximava ela teve um grande impulso suicida. Pensou seriamente que estava á um passo de acabar com toda a dor que sentia, que a fazia mal. Pensou também que ela não seria mais uma das estatísticas de acidentes de carro ou mais uma passageira de um avião ou transatlântico. Talvez as pessoas a admirassem pela sua coragem ou simplesmente a recriminassem. Apesar do transtorno e toda sua intensidade, não havia coragem da sua parte, aliás, nunca houve. E ironicamente, o medo que sempre a atormentava e atrapalhava sua vida e salvou de antecipar o último ato.
As portas estavam prestes a fechar quando Sophie aterrizou seus pensamentos, entrou no trêm, sentou-se em um banco próximo a janela direita e voltou á suas reflexões sombrias, deixando o trêm da vida guiá-la a próxima estação.


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